Corte a cabeça, e o exército inteiro perde a capacidade de resistir. Algo semelhante ocorre hoje no mercado de criptomoedas. Durante muito tempo, a estratégia de Michael Saylor serviu de inspiração para outras empresas, mas agora perdeu força. As ações de sua companhia caíram cerca de 15% após a tentativa malsucedida de emitir ações preferenciais para financiar compras de Bitcoin. Esse é um dos fatores que pressionam o BTC/USD.

A estratégia tem muitos seguidores. Os chamados crypto treasuries detêm 4,7% de todo o Bitcoin em circulação — um montante avaliado em 109 bilhões de dólares. Essas empresas captam recursos emitindo valores mobiliários — ações ordinárias e preferenciais, além de títulos — e, em seguida, direcionam o capital para investimentos em criptomoedas. Por muito tempo, a empresa de Saylor foi considerada referência no setor. Se fracassar, todo o mercado pode tremer.

A tendência de queda do BTC/USD, no entanto, não se explica apenas pelas dificuldades das crypto treasuries. O Bitcoin também vem perdendo terreno para o Ethereum e deixando de ser visto como um ativo altamente especulativo para assumir uma postura mais tradicional. Hoje é considerado mais confiável do que no passado, o que atrai grandes players, incluindo bancos e gestoras de investimento. Mas a queda da volatilidade — de 200% há dez anos para os atuais 38% — é um mau sinal para quem busca ganhos rápidos. Os dias de comprar um ativo digital apenas porque ele estava subindo ficaram para trás.

Tendências de fluxo de capital em ETFs de Bitcoin e Ethereum

A blockchain do Ethereum — cujo token nativo é o Ether (ETH) — vem registrando forte demanda. A rede hospeda diversas stablecoins, cuja crescente adoção no comércio e em outras transações está impulsionando o interesse por ETH/USD. Como reflexo, os ETFs focados em Bitcoin perderam mais de 1 bilhão de dólares em agosto, enquanto os ETFs de Ethereum ampliaram suas posições em 3,3 bilhões de dólares.

Nos EUA, os índices acionários em máximas históricas e o ouro prestes a retomar sua tendência de alta parecem, no momento, alternativas muito mais atrativas do que o Bitcoin. O capital tem saído do mercado cripto, pressionando as cotações de BTC/USD para baixo. Outros ativos digitais também são afetados por esse movimento. Os riscos de uma reversão mais ampla estão inclinados para o lado negativo, enquanto os derivativos ainda precificam um movimento em direção a 100.000 dólares para o Bitcoin e 4.000 dólares para o Ethereum.

Além disso, o Bitcoin não é favorecido pelas recentes notícias de que a Coinbase e a OKX, duas das maiores corretoras de criptomoedas, buscam agressivamente acesso ao sistema de pensões da Austrália, avaliado em 4,3 trilhões de dólares australianos. O foco inicial está nos SMSFs (Self-Managed Superannuation Funds), que detêm cerca de um quarto de todos os ativos previdenciários.

Na minha opinião, o declínio do interesse no Bitcoin como um ativo de alto risco aumenta os riscos de uma correção mais profunda, embora a tendência de alta de longo prazo permaneça intacta, apoiada pela oferta limitada e pela forte demanda institucional.

Perspectiva técnica para BTC/USD

Tecnicamente, no gráfico diário, um padrão de reversão "Anti-Turtles" está se desenrolando. Enquanto os preços permanecerem abaixo do nível pivô de 111.500 e do valor justo de 113.400, o foco deve permanecer na venda.