Tudo virou de cabeça para baixo no mercado cambial internacional. Quem acreditava que o fim da paralisação do governo dos EUA traria clareza para o Federal Reserve e para os investidores estava enganado, a incerteza só aumentou. Durante a paralisação, o mercado de futuros atribuía entre 62% e 72% de probabilidade a um corte de juros em dezembro; agora, essa chance caiu para menos de 50%. Em contraste, a maioria dos especialistas consultados pela Reuters permanece confiante de que a taxa dos fundos federais será reduzida de 4,00% para 3,75% até o fim do ano. O EUR/USD, por sua vez, parece dar mais peso à visão dos analistas do que ao mercado de derivativos, avançando novamente acima de 1,16.

Segundo a Reuters, 80% dos economistas pesquisados — 84 de 105 — esperam um corte de juros em dezembro, uma proporção significativamente maior do que na pesquisa de outubro. Apesar da forte divisão interna no próprio Fed, 70% dos especialistas afirmam que o mercado de trabalho americano está no mesmo nível do observado no verão, enquanto os 30% restantes acreditam que houve um novo arrefecimento. Esse diagnóstico, para muitos, deve pressionar o Fed a agir.

Dinâmica e previsões da taxa dos fundos federais.

Os economistas projetam que o crescimento do PIB dos EUA desacelere de 3,8% no segundo trimestre para 2,9% no terceiro e para apenas 1% no quarto trimestre. A paralisação teve um impacto negativo sobre a economia, e a redução da diferença de crescimento entre os EUA e a zona do euro reforça a tendência de alta do EUR/USD.

A integrante do Conselho Governante do BCE, Isabel Schnabel, afirma que a economia da zona do euro está em recuperação e que um estímulo fiscal significativo deverá impulsionar ainda mais o PIB. Nesse ambiente, é improvável que a inflação desacelere — ao contrário, os preços podem voltar a subir. Isso permite que Schnabel argumente que a taxa de depósito está atualmente no nível adequado. Um corte de juros só seria justificado por um choque significativo — algo que, por ora, não está no horizonte.

Assim, de um lado, os investidores observam uma economia americana perdendo força sob o impacto das tarifas e da paralisação. De outro, veem uma zona do euro mais resistente às tarifas de importação e ganhando tração. O BCE já concluiu seu ciclo de afrouxamento monetário, enquanto o Fed ainda está no processo, embora a possibilidade de um novo corte esteja cada vez mais incerta.

Nas projeções do FOMC de setembro, dez membros previram que a taxa dos fundos federais cairia para 3,75%, enquanto nove acreditavam que ela permaneceria em 4,00%. Os falcões agora argumentam que continuar reduzindo juros tornaria mais difícil trazer a inflação de volta à meta de 2%, especialmente porque o mercado de trabalho já se estabilizou após a desaceleração do verão. Os pombos, por sua vez, defendem que o mercado de trabalho continuará a enfraquecer e que o pico inflacionário causado pelas tarifas é temporário.

Os próximos dados revelarão quem está certo — e com o governo agora reaberto, esses números finalmente estarão disponíveis na íntegra.

Quadro técnico

No gráfico diário, o EUR/USD está lutando para estabelecer um valor justo em torno de 1,1615. Uma quebra consistente acima desse nível poderia fortalecer as posições compradas iniciadas na região de 1,1470–1,1490, favorecendo o euro em relação ao dólar americano.