Durante muito tempo, os mercados financeiros ignoraram tanto as tarifas de Donald Trump quanto a relutância do Federal Reserve em reduzir suas taxas de juros extremamente altas. Os investidores estavam confiantes de que a economia dos EUA poderia resistir a ambos. No entanto, quando o crescimento do emprego nos EUA desacelerou para uma média de apenas 35.000 nos últimos três meses - o valor mais baixo desde a pandemia - o S&P 500 entrou em colapso como um castelo de cartas.

Dinâmica das Folhas de Pagamento Não-Agrícolas dos EUA

Diante dos dados fracos do mercado de trabalho, Donald Trump demitiu a diretora do Bureau of Labor Statistics (BLS), alegando que ela estaria agindo por motivações políticas. A revisão para baixo dos números de criação de empregos em maio e junho — com uma redução de 260 mil vagas — foi a maior desde 2020. Ainda assim, os dados do BLS continuam sendo considerados referência no mercado. Se o próprio presidente dos Estados Unidos demonstra desconfiança, isso acaba abalando a credibilidade da instituição perante os investidores.

Trump também pediu a renúncia de Jerome Powell, logo após a saída da governadora do FOMC, Adriana Kugler. A saída dela abre espaço para que a Casa Branca indique um novo membro com perfil mais "dovish" (favorável à flexibilização monetária), o que pode alterar o equilíbrio dentro do Federal Reserve. Esse tipo de movimentação nos bastidores da autoridade monetária costuma gerar desconforto nos mercados.

Durante bastante tempo, os mercados mantiveram uma postura excessivamente complacente. A combinação de ações sobrevalorizadas, tarifas de importação nos níveis mais elevados desde a década de 1930 e o risco de inflação descontrolada vinha alimentando o temor de uma bolha. As máximas históricas do índice S&P 500 pareciam difíceis de justificar — especialmente após Trump assinar uma ordem executiva que impõe tarifas entre 10% e 41% sobre as importações de todos os países, com vigência a partir de 8 de agosto.

Nos últimos dias, o índice vinha subindo impulsionado pelos bons resultados corporativos e pelo otimismo em torno da inteligência artificial. Mais de 96% das empresas de tecnologia que compõem o S&P 500 superaram as projeções de lucro, e 93% também ultrapassaram as estimativas de receita. Nos demais setores, esses percentuais foram de 82% e 68%, respetivamente.

Desempenho do índice de ações e das "Sete Magníficas"

Infelizmente, esse impulso não poderia durar para sempre. Os especialistas de Wall Street inicialmente subestimaram o impacto das tarifas e da incerteza. O Nasdaq 100 está sendo negociado a 27 vezes o lucro projetado. O Bank of America observou que, para que a alta das "Sete Magníficas" continue, seria necessário registrar novas máximas históricas — algo que o relatório de empregos acabou impedindo.

As más notícias sobre a economia e o comércio voltaram a impactar negativamente o S&P 500. O índice ignorou o forte aumento na probabilidade de um corte nos juros pelo Fed em setembro — de 35% para mais de 80%. Isso porque os investidores interpretam essa revisão como um reflexo da fragilidade da economia dos EUA e de um possível erro na condução da política monetária. Por tempo demais, o Fed manteve uma postura excessivamente cautelosa de "esperar para ver". Agora, resta a esperança de que ainda haja tempo para agir.

Do ponto de vista técnico, o gráfico diário do S&P 500 indica uma quebra abaixo de seu valor justo em 6265, que agora atua como um suporte crucial. Enquanto os preços permanecerem abaixo desse nível, estratégias de venda continuam sendo justificáveis. A correção pode se prolongar até as regiões de 6100 e 5950.